A psicologia tradicional e a psiquiatria concebem uma divisão arbitrária entre mente e corpo, entendendo o comportamento como sendo apenas nossas ações públicas, passíveis de serem observadas pelo outro. Já os pensamentos e sentimentos seriam outra coisa, algo mais nobre. Daí a necessidade da criação de uma mente - a mente seria a causa dos pensamentos e das emoções, um lócus privilegiado. Mas acredite, a mente é formada por algum “estofo/substância” ainda não explicado cientificamente. Ela continua sendo apenas um conceito, não algo que existe. Nesse sentido arbitrário, o emocionar, o sentir, o pensar, imaginar, resolver problemas ou tomar decisões, não seriam comportamentos. Isso ocorre porque somente a pessoa teria acesso as suas reações privadas e ninguém mais. Vamos agora para a definição de comportamento na Psicologia Comportamental ou Análise do Comportamento. Para ela, comportamento é a relação do indivíduo com o seu mundo. Nessa relação o indivíduo modifica o seu ambiente e é por ele modificado. Essa relação de interação, entre comportamento e o ambiente em que ele ocorre, é o que concede à ciência comportamental seu caráter contextual de análise. Nesse sentido dizemos que o comportamento é função de sua relação com o contexto, presente e passado. Interessa a história genética da espécie, a história pessoal da pessoa que se comporta e a cultura em que esta se encontra.
Dentro dessa concepção, o pensamento e os sentimentos também seriam comportamentos pois eles são nossas interações com o mundo. Mas permita-me exemplificar melhor. Imagine que estou triste em meio a um café, quando me assolam alguns pensamentos referentes a um episódio de briga com meu melhor amigo. Um colega poderia me perguntar a de fato na natureza.
“por que você está tão quieto?”, e eu facilmente lhe responderia “porque estou lembrando da briga que tive com fulano”. Mas a despeito dessa explicação ser uma usual que damos no nosso dia a dia, seria talvez mais produtivo perguntar, “o que levou você a ter esses pensamentos?”. E a resposta, esta, retornaria nossa atenção para a minha relação de interação com o mundo – "tenho brigado muito com meu amigo".
Essa concepção mais ampla de comportamento dá a oportunidade única para que possamos intervir em nosso mundo. Para mudar os pensamentos e sentimentos negativos, eu poderia tentar não pensar no problema, ou vê-lo sobre outro "ponto de vista". Mas o alcance disso é pequeno, vide a limitação dos livros de auto-ajuda. Mais efetivo seria eu resolver minhas pendências diretamente com o meu amigo. Se eu tiver sucesso em fazê-lo, então talvez eu tenha outros pensamentos com relação ao amigo, e sentimentos muito mais nobres. Em síntese, os sentimentos e pensamentos não acontecem no vácuo.
Não é difícil entender o comportamento público ou privado como sendo a relação do indivíduo com o seu ambiente.
Postado por LETÍCIA
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